Você já ouviu falar que o Certificado de Operações Estruturadas (COE) é, na prática, uma “roubada”? Pois bem — um estudo robusto da FGV EESP expôs um problema sistemático: 9 em cada 10 COEs vendidos a investidores de varejo oferecem retorno esperado inferior ao Tesouro Direto, isso quando não geram prejuízo real, descontada a inflação.
O COE é vendido com aparente segurança: capital protegido e exposição a ações de grandes empresas. Uma narrativa sedutora. Mas essa “proteção” não corrige danos inflacionários e, no fim do prazo, muita gente recebe o valor nominal de volta — sem ganho real algum. Enquanto isso, o banco emissor lucra com os custos embutidos e comissões volumosas — e nada disso é evidente nas lâminas informativas.
Os pesquisadores Bruno Giovannetti, Fernando Chague, Otávio Bitu e Tomaz Hamdan analisaram 284 COEs emitidos entre 2016 e 2019. O resultado é claro: dos 284, 252 tinham retorno esperado abaixo da taxa livre de risco; apenas 32 ofereciam um ganho superior — e mesmo nesses, a volatilidade aumentava o risco de arrependimento.
Além dos resultados abaixo do Tesouro, os COEs sofrem com falta de liquidez. Resgates antecipados podem resultar em perdas de até 50% do capital investido. E o custo é ainda mais perverso ao cliente, porque os mark-ups dos produtos e as comissões pagas aos assessores não são divulgados com transparência.
É um modelo que favorece quem vende, e não quem investe.
A metáfora não é exagero. O COE combina renda fixa com renda variável, e pode até parecer sofisticado. Mas o investidor típico não sabe a probabilidade de os cenários de ganho ou proteção se realizarem — o que significa que não pode calcular o retorno esperado com precisão. Os distribuidores deixam o paciente com a responsabilidade de inferir o valor real, e a matemática, para maioria, simplesmente não fecha.
Pior: muitos COEs garantem capital nominal, mas ignoram o impacto da inflação. Na prática, você deixa de ganhar — e ainda perde poder de compra. Os pesquisadores enfatizam que receber o valor nominal de volta após três anos sem correção já é uma perda, porque não houve ganho real suficiente para compensar o tempo investido.
Essa pesquisa se soma a outras já realizadas pela FGV, como aquelas que mostraram o alto índice de desistência e prejuízo no day trade. Os mesmos acadêmicos que falaram sobre derrapagens das estratégias de curto prazo apontam agora que os COEs também oferecem retornos medíocres — ou negativos — para quem realmente vence a volatilidade do mercado.
Para consultores fiduciários, planejadores e Multi-Family Offices como a Ascenda Wealth, o alerta não poderia ser mais claro: produtos distribuídos com alta complexidade e baixo retorno esperado não podem ser parte central de uma carteira de investimento.
Em vez disso, nosso foco precisa ser o planejamento transparente, a alocação consciente com base na tolerância ao risco e metas reais, e a priorização de instrumentos cujo investimento em clareza e análise gere valor real e sustentável.
A confiança do cliente não é construída com promessas de lucros fantasiosos; ela nasce da consistência da entrega, da simplicidade quando possível e da honestidade na comunicação.
Este estudo da FGV é um grito de alerta para o mercado. Ele confirma o que muitos consultores independentes já sabiam intuitivamente: não se deve expor um cliente a risco sem retorno esperado superior ao mínimo garantido pelo Tesouro. E que a estrutura de remuneração do vendedor pode distorcer todo o sentido da recomendação.
Para o investidor:
Se você tem COE na carteira, revise sua estratégia. Avalie com cuidado os custos ocultos, a liquidez e o retorno real pretendido.
Para o profissional:
Se seu modelo de negócio valoriza mais a venda do que o aconselhamento, talvez seja hora de reavaliar sua missão. A construção de valor genuíno — e não a oportunidade pontual — é o futuro do mercado consultivo.
O COE pode até ser elegante no verniz; mas a matemática crua não perdoa. O verdadeiro poder do consultor emerge quando ele resguarda o cliente da complexidade desnecessária.
Fontes citadas:
https://www.suno.com.br/noticias/coe-perda-comissoes