Como a dopamina afeta suas finanças

Marcus V. Schönhorst W. Müller
Marcus V. Schönhorst W. Müller
September 2023
5 min

Do ponto de vista evolutivo, natural, nosso mundo é perigoso, a busca por alimento é uma constante e vivemos rodeados de perigos, com recursos limitados. Tivemos que trabalhar muito para conseguir o que precisávamos para sobreviver. Isso explica porque a sociedade conseguiu evoluir mais nas últimas décadas do que em toda a história humana anterior - nós não precisávamos mais lutar para sobreviver, podíamos nos concentrar em atividades intelectuais, criativas.


Quando recursos como alimentos eram encontrados, a dopamina liberada no cérebro nos incentivava a buscar mais. Isso nos manteve motivados a sair e encontrar a próxima árvore frutífera, ou matar o próximo animal.


Essa história evolutiva transformou os humanos em buscadores constantes, sempre lutando por mais, porque a sobrevivência dependia disso. Dessa forma, não somos realmente diferentes dos outros animais.


Mas à medida que nossos cérebros e sofisticação cresciam, essa busca constante nos permitiu transformar o mundo, literalmente. Estamos vivendo no que os antropólogos estão começando a chamar de Antropoceno. Nossos cérebros e tecnologia nos permitiram, como espécie, criar mais abundância do que jamais poderíamos precisar ou desejar.


Muito do que criamos neste novo mundo é altamente viciante, alimentos, medicamentos, redes sociais. O problema é que nossas conexões e sinapses cerebrais ainda são primitivas. E isso nos obriga a continuar buscando sempre mais dopamina. 


As coisas que costumávamos buscar apenas para sobreviver e que eram extremamente difíceis de encontrar, agora estão a dois cliques de distância em um pequeno pedaço de vidro que carregamos em nossos bolsos. Ou 10 passos na geladeira.




Dopamina


Anna Lembke é psiquiatra e chefe da Stanford Addiction Medicine Dual Diagnosis Clinic na Universidade de Stanford. Ela tem um best seller chamado Dopamine Nation: Finding Balance In The Age Of Indulgence.

Esse é um livro que eu indico para quem quer se aprofundar mais no tema e entender o delicado equilíbrio de dopamina no corpo.


De acordo com a Goodreads:


“Este livro é sobre prazer. É também sobre a dor. Mais importante, trata-se de como encontrar o delicado equilíbrio entre os dois, e por que agora, mais do que nunca, encontrar o equilíbrio é essencial. Estamos vivendo em uma época de acesso sem precedentes a estímulos de alta recompensa e alta dopamina: drogas, comida, notícias, jogos de azar, compras, jogos, mensagens de texto, sexting, Facebook, Instagram, YouTubing, twittar… O aumento dos números, variedade, e a potência é impressionante. O smartphone é a agulha hipodérmica moderna, fornecendo dopamina digital 24 horas por dia, 7 dias por semana, para uma geração com fio. Como tal, todos nos tornamos vulneráveis ​​ao consumo excessivo compulsivo.


O equilíbrio da dopamina


A dopamina é um poderoso neurotransmissor. Em suma, para se manter saudável é preciso manter um equilíbrio relativo nos níveis de dopamina, também chamado de homeostase. A vida moderna possibilitou “acesso fácil à dopamina". Na maioria das pessoas os níveis de dopamina estão fora de controle. 


Essa dopamina vêm de alimentos e “coisas”, ou mais precisamente bens de consumo. Ou seja, gastos.


Você vê uma coisa legal na Amazon, você compra. Isso é um golpe de dopamina por si só porque você está criando expectativa. Então a coisa vem e você tem outro grande sucesso. Se você gosta da coisa, pode continuar a dar-lhe mais alguns hits de dopamina, mas pesquisas mostram que, inevitavelmente, esse nível diminui com o tempo. Então você passa para a próxima coisa.


E essa é a esteira hedônica. Para muitos, essa esteira se transforma em um vício em compras.


Substitua comida, jogos de azar, pornografia, videogames ou qualquer outra coisa e o resultado é o mesmo. A busca incansável do prazer, daquela dose de dopamina, diminui independentemente do tipo de vício. Segundo Lembke, o cérebro busca desesperadamente a homeostase que cria grandes oscilações o que acaba deixando você triste e deprimido. 


Isso é um dos motivos porque empresários de sucesso continuam empreendendo mesmo após terem encontrado “o pote de ouro”. Existe uma busca incessante pela dopamina e quanto mais elevado é o nível de dopamina, mais além você precisa ir. Atletas de esportes radicais se expõem cada vez mais a riscos, em busca do hit de dopamina porque você precisa de mais que antes para que o efeito no seu cérebro seja o mesmo.


Isso é chamado de equilíbrio prazer-dor. Muitos especialistas indicam que após você ter uma alta dose de dopamina o ideal é deixar ela baixar, se acalmar e sentir um pouco daquela tristeza que a diminuição de dopamina trás para trazer os níveis do neurotransmissor ao equilíbrio novamente. 


É por isso, meus amigos, que você se sente horrível não apenas fisicamente, mas também mentalmente depois de comer aquela porcaria. É por isso que a busca interminável de gadgets, coisas maiores, melhores, deixam você vazio.


E toda vez que você volta para o pote de doces de dopamina, você se sente mais vazio ainda. A Dopamina pode ser o grande vilão do seu orçamento e só o controle e planejamento, apesar de imprescindíveis (não haverá futuro sem planejamento), não são suficientes para a solução deste problema.




Conforto No Desconforto


Pessoas que fazem parte do meu círculo mais próximo de amizade sabem que sou um defensor dos exercícios físicos e sempre falo dos hobbies que pratico e da regularidade da academia.


Eu sinto fortemente que o exercício é uma peça fundamental para a nossa saúde e bem-estar. 

Recentemente o Dr. Peter Attia, especialista em longevidade disse: 

“O exercício pode ser a “droga” mais potente que temos para prolongar a qualidade e talvez a quantidade de nossos anos de vida”.

Regular a dopamina é questão de qualidade de vida. Finanças e planejamento financeiro também são questões de qualidade de vida e sua vida é uma coisa só. Cuidar da saúde e cuidar do seu patrimônio fazem parte do mesmo processo de melhorar seu dia a dia, melhorar sua vida. 


Você tem a escolha, a dopamina sempre vai criar o gatilho para mais dopamina, você tem que dar um jeito de hackear a dopamina dentro de você. 

Eu vou deixar aqui o vídeo de alguém que é bem mais competente que eu nesse assunto e explicar melhor sobre o Jejum de dopamina.


Aprendizado


Economia comportamental é uma área da ciência econômica muito interessante, gosto de abordar o assunto, apesar de não ser uma das minhas especialidades. No processo de planejamento da Ascenda Investimentos, usamos muito a equação da vida para explicar para nossos clientes essas relações entre comportamento e resultado financeiro.

Na vida, tudo são reações e eventos. Nós reagimos àquilo que se apresenta em nossa frente. Dito isso, no final a escolha é sempre nossa. Planejar, não planejar, pedir orientação, não pedir, equilibrar os níveis de dopamina (mesmo que isso seja desconfortável), ou não equilibrar. 

No fim do dia você decide se quer uma mudança ou não, no fim da vida você decide se teve arrependimento ou não.

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Marcus V. Schönhorst W. Müller
CEO, Ascenda Investimentos