Muito além do assessor: o papel do consultor CVM e por que está crescendo tanto?

Marcus V. Schönhorst W. Müller
Marcus V. Schönhorst W. Müller
September 2025
5min

Imagine um profissional brilhante, carismático, com uma carteira de clientes sólida. Durante anos, ele foi o principal ponto de contato entre pessoas físicas e o universo dos investimentos. Recebia comissões pelas aplicações que recomendava, oferecia fundos, previdência, crédito estruturado. Era um assessor de investimentos — elo fundamental entre o mercado e o investidor brasileiro.

Agora imagine o dilema: seu cliente está insatisfeito. A rentabilidade não reflete o risco assumido. A carteira parece travada em produtos difíceis de sair, e há uma sensação incômoda de que as decisões foram guiadas mais por incentivo comercial do que por planejamento real. O assessor, por sua vez, começa a sentir o peso da reputação: será que recomendei aquele produto por ser o melhor… ou por ser o único com comissão naquele momento?

Essa crise de consciência — cada vez mais comum — tem impulsionado uma silenciosa revolução no mercado financeiro brasileiro: o crescimento dos consultores de valores mobiliários registrados na CVM. Um movimento que está moldando o futuro do investimento independente no país.

A diferença entre recomendar e aconselhar

O assessor de investimentos é um representante da corretora. Atua como preposto e recebe comissões por produtos distribuídos. Sua remuneração depende, quase sempre, do volume aplicado em ativos que pagam rebate — o que pode gerar um conflito estrutural entre os interesses do cliente e os da instituição.

Já o consultor de investimentos, conforme definido pelas resoluções CVM nº 19 e nº 179, é um profissional independente. Seu papel é oferecer orientação técnica, personalizada e isenta. Não recebe comissões. Não intermedia. Não está vinculado a uma prateleira. Ele aconselha — e responde por isso.

Essa diferença parece sutil, mas na prática muda tudo: liberdade de produto, alinhamento de interesses e foco em objetivos de longo prazo.

Os números não mentem

Apesar de ainda ser minoria no Brasil, o número de consultores vem crescendo de forma expressiva:

Elaboração: Autor

Nos últimos cinco anos, os consultores brasileiros cresceram mais de 150%, enquanto o número de assessores estabilizou. A tendência reflete o que já ocorreu nos EUA e Europa: migração de profissionais do modelo comissionado para o modelo fiduciário.

Elaboração: Autor

Um novo ciclo: a segunda chance para o assessor

Na Ascenda Wealth, temos recebido com frequência profissionais que desejam sair da assessoria e dar um novo significado à sua trajetória. Muitos deles trazem consigo carteiras que hoje enfrentam desafios delicados: produtos com liquidez limitada, retornos abaixo do CDI, conflitos não percebidos pelo cliente no momento da venda.

A transição não é simples. O consultor que antes dependia de rebate passa a viver do valor percebido CONSTANTEMENTE. Precisa aprender a comunicar de forma clara, prestar um serviço com profundidade e, principalmente, reconstruir a confiança do cliente. Nosso modelo de negócio é voltado para isso e a entrega pro cliente é perpétua. É quase um modelo de assinatura de serviços de investimentos. Quando isso é feito com transparência, a recompensa vem. Na Ascenda hoje, basicamente 20% do crescimento da nossa carteira é de aportes extras dos próprios clientes.

A consultoria é, para muitos, uma segunda chance. Uma oportunidade de realinhar propósito, reputação e resultado.

E quanto aos clientes?

Eles também sentem a mudança. Uma carteira recomendada por um assessor tende a ter produtos mais rentáveis para a corretora; uma carteira construída com um consultor, por sua vez, tende a ser mais enxuta, eficiente, barata e alinhada com metas de vida. Além disso, a gente passa a prever aqueles resgates que "vem do nada" e, muitas vezes, destruíam rentabilidades no mercado secundário, para troca de veiculo, obra, compra de uma casa nova, porque o cliente mantém um planejamento conosco, a gente olha para 12, 24 meses, sempre para frente, tanto no orçamento do cliente, quanto na carteira de investimentos.

Em nossos atendimentos, já reestruturamos muitas carteiras com produtos que pagavam até 7% de comissão “invisível”. Alteramos estas carteiras para estruturas que hoje entregam mais retorno com menos risco. Honestamente, as vezes, alguns clientes podem até pagar mais dentro do nosso modelo, uma vez que clientes mais passivos - que estocam seu dinheiro em produtos de baixa comissão - passariam a pagar 1% ao ano, por exemplo. Porém estes clientes não estão construindo carteiras, olhando pra objetivos, legado, eficiência tributária, fiscal, diversificação. Estão apenas estocando dinheiro. Existe uma oportunidade aqui de ressignificar para este cliente o que é investir e mostrar pra ele que existem melhores caminhos.

O papel do Multi-Family Office na nova era

Na Ascenda, atuamos como um Multi-Family Office com registro de consultoria na CVM. Isso significa que combinamos a sofisticação da arquitetura aberta com a independência de quem só responde ao cliente. Ajudamos famílias, médicos, empresários — e também ex-assessores — a reorganizarem suas carteiras com foco no longo prazo.

Nossa tese é clara: o futuro pertence a quem aconselha, não a quem empurra produto. E os profissionais que entenderem isso a tempo estarão à frente de uma transformação inevitável no mercado financeiro brasileiro.

Se você é um assessor de investimentos e sentiu que este texto falou com você, talvez seja hora de conversar. Sua carreira não precisa acabar com a queda de comissões. Ela pode recomeçar com propósito. Nos envie uma mensagem em carreira@ascendavoce.com.br

Fontes (Todas acessadas em 03/08/2025):

https://www.gov.br/cvm/pt-br/assuntos/noticias/2023/numero-de-regulados-da-cvm-cresce-e-atinge-cerca-de-85-mil-participantes

https://www.veritas.law/post/atividade-de-consultoria-cvm-cresce-155-nos-últimos-5-anos-segundo-dados-oficiais

https://www.infomoney.com.br/carreira/perfil-do-assessor-de-investimentos-maioria-e-homem-do-sudeste-e-tem-ate-45-anos

https://neofeed.com.br/wealth-management/consultorias-de-investimento-viram-moda-e-dobram-em-cinco-anos-mas-so-a-metade-deve-sobreviver

https://www.suno.com.br/noticias/consultoria-investimentos-cvm-consultoria-suno-gss

https://pt.linkedin.com/pulse/report-de-dados-sobre-consultoria-cvm-2025-tenha-uma-leitura-5aqlf

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Marcus V. Schönhorst W. Müller
CEO, Ascenda Investimentos