Agosto começou logo depois de uma “Super Quarta”, dia que marca as decisões de juros no Brasil (COPOM) quanto nos Estados Unidos (FOMC). Esse dia foi marcante pois o mercado esperava dois tipos de sinalizações.
Do lado Americano tivemos alguma indicação que o momento para corte de juros chegou e qual seria o tamanho e velocidade dos cortes. Pelo Brasil a mensagem era o extremo oposto era esperado uma confirmação de manutenção e talvez uma possível elevação já que nos últimos dias o relatório FOCUS está mostrando uma piora na inflação projetada.
Mas o que aconteceu para chegarmos nesse ponto, principalmente no Brasil. Quando olhamos o passado recente começamos o ano com uma taxa Selic em 11,75% esperando chegar no final do ano em 9,00%, uma inflação esperada de 3,90% para 2024 e 3,50% para 2025. Agora projetamos uma Selic estável em 10,50%, apesar dos contratos de juros negociados no mercado precificando novas elevações da SELIC, chegando no final do ano em 11,25%. Para a inflação agora esperamos 4,12% em vez de 3,90% para 2024 e 3,98% em vez de 3,50% para 2025.
Recentemente dois temas são centrais: O nível do câmbio que atualmente está em torno de 5,60; e as despesas do governo, o que está gerando a pergunta se vão conseguir entregar o déficit prometido ou não. Esse último tema foi inclusive citado diretamente em um parágrafo da ATA do COPOM.
“O Comitê monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal (gastos do governo) impactam a política monetária (taxa de juros Selic) e os ativos financeiros. Ademais, notou-se que a percepção mais recente dos agentes de mercado sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal vigente, junto com outros fatores, vem tendo impactos relevantes sobre os preços de ativos e as expectativas. O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária. Políticas monetária e fiscal síncronas e contracíclicas contribuem para assegurar a estabilidade de preços e, sem prejuízo de seu objetivo fundamental, suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego.”
Foi uma forma educada de mostrar que não adianta o Governo querer gastar sem responsabilidade, que isso vai afetar o nível de juros no longo prazo e as expectativas de inflação.
Mais para frente quando cita um balanço de riscos entre elevação ou queda de juros ele fala em 3 itens para o cenário de alta e 2 para o cenário de cortes. Apesar de não afirmar que o cenário de elevação está mais provável, continua afirmando um equilíbrio, será mesmo?
Logo no começo do texto falamos sobre que o momento de corte de juros chegou no mercado americano, inclusive o próprio presidente do FED disse que o corte em setembro é possível. Além disso, tivemos a divulgação de um relatório de criação de emprego no mercado americano, o nome dele é “Payroll”, no momento vamos apenas considerar que ele é usado para saber se a economia está crescendo ou não. Esse último dado divulgado veio abaixo do esperado, o que gerou um receio que uma recessão nos Estados Unidos pode estar chegando. Para o mercado esse dado é um claro sinal de que o FED precisa cortar juros, tanto que já precifica cortes nos contratos futuros. Então se o próximo movimento for o corte de juros pelo FED isso pode ajudar para que o real (R$) se valorize frente ao dólar (US$) em função do diferencial de juros( esse tema vamos abordar em um artigo futuro).
Caso esse movimento aconteça podemos esperar um alívio nas projeções de inflação, o que ajuda e muito a vida do COPOM. Se confirmado uma queda nas expectativas futuras de inflação, o cenário de manutenção de juros parece ser o mais provável. Vale lembrar que estamos chegando no momento de troca do presidente do Banco Central e, ao que tudo indica, essa próxima pessoa indicada pelo governo atual deveria estar mais alinhada com sua visão e sabemos que o nível elevado dos juros é um ponto recorrente de reclamações do atual presidente da república.
Dessa forma fica difícil acreditar que os novos membros do COPOM vão querer elevar os juros, mesmo em um cenário onde isso seja necessário. O que parece ser o mais provável é que eles estão na torcida de que o FED corte os juros e com isso evite uma necessidade de elevação na SELIC e talvez até voltar a pensar em corte de juros, mesmo que não seja algo prudente.
O grande risco para essa trajetória é uma mudança de meta fiscal que pode elevar o nível de desconfiança dos agentes de mercado sobre o real comprometimento do governo com um equilíbrio das contas públicas e como resultado acontecer uma elevação na inflação projetada. Isso iria demandar uma ação do BC (Banco Central) de subida dos juros, mas será que essa nova diretoria iria fazer o certo (escolher o caminho difícil e desagradar quem o colocou lá?) ou falar que é uma situação pontual e aceitar uma inflação mais alta? Acho que devemos todos começar a torcer pelo corte do FED para ajudar nosso futuro aqui no Brasil.